quarta-feira, 30 de junho de 2010

Desabafos: Orgulho Ibérico

Orgulho Ibérico

Não consigo deixar de pensar no jogo que mais uma vez parou o País (ainda bem que desta vez não foi durante o expediente). O que eu vi foi isto:

De um lado, a Espanha:

- Actual campeã da Europa;

- 12 jogos/12 vitórias no apuramento;

- Treinador que já foi campeão;

- Base da equipa do Barcelona (bi-campeão espanhol e ex-campeão europeu);

- Jogadores que jogam juntos nas selecções desde os 15/16 anos;

- País cujas selecções jovens ganham regularmente europeus e mundiais;

- País com excelentes resultados em quase todas as modalidades desportivas (campeão olimpico de basket, vários tenistas no top ten do circuito ATP e actual nº 1 do ranking, tem um bi-campeão em Fórmula 1, ganha quase tudo no hóquei em patins, uma das melhores equipas de andebol, etc.).

Do outro lado, Portugal:

- O melhor que conseguiu até hoje foi perder uma final em casa contra essa potência que é a Grécia;

- Apuramento à rasquinha, atrás da Dinamarca, com a "negra" a ser decidida contra a Bósnia-Herzegovina;

- Treinador bem sucedido nos sub-20 em 1989 e 1991 e como adjunto no Manchester United; tirando isso, só fracassos em 20 anos de carreira;

- Equipa sem defesa direito (vejam o lance do golo, volta depressa Bosingwa!); "onze" constituído por jogadores sem rotinas de conjunto ao contrário dos jogadores do Euro 2004 e do Mundial 2006; uma estrela que passou o jogo a tentar driblar 4 opositores no seu meio-campo, perdendo sucessivamente a bola. Porém, nem tudo foi mau: revelámos os melhores guarda-redes e defesa esquerdo do Mundial;

- Quanto a sucessos desportivos portugueses, assim de repente, lembro-me do salto do Nélson Évora, temos um campeão europeu no judo e somos bons em bóccia, no chinquilho (para quando uma congénere da UEFA?) e em matraquilhos.

Agora, a análise propriamente dita:

Estes factos, indesmentíveis, demonstram que o sucesso do desporto espanhol não resulta do acaso, mas de um profundo investimento estrutural, de base, com planeamento estratégico a apontar para os resultados de longo prazo. A Espanha investiu nos últimos anos na criação de condições que conduziram a este sucesso. Sugiro um estudo comparado, e que se adopte (onde for possível) o exemplo espanhol. Acho que ainda vamos a tempo.

No contexto acima descrito, resisto à tentação de criticar o seleccionador português, embora critique quem o escolheu; não critico o egocentrismo do Ronaldo, mas critico os media e as marcas que criaram o monstro; não critico o Ricardo Costa mas quem o convenceu a ser jogador de futebol. Enfim, acho que não tenho legitimidade para, do conforto do meu sofá, criticar os 14 jogadores que, para deleite de 13 milhões de portugueses unidos num desejo comum de glória, se esforçaram em campo para elevar o nome de Portugal, perante tantas adversidades.

Como gosto de pensar positivo, do duelo ibérico de hoje retiro a seguinte lição: se nos inspirarmos nos abraços do final do jogo e juntarmos o exemplo espanhol de investimento e planeamento verificado no desporto, ao sentimento demonstrado hoje pelos portugueses em torno de um desígnio comum de elevação de Portugal, talvez possamos encarar o futuro com mais optimismo.

Amanhã, quando for trabalhar, vou ouvir 13 milhões de vozes em uníssono: Levantai hoje de novo o esplendor de Portugal...

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